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Por que a Palestina não é um país?

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A Palestina é reconhecida pelas Nações Unidas, desde finais de 2012, como um “Estado observador não membro”. Embora isto se deva a uma variedade de fatores, incluindo a falta de apoio internacional, especialmente de superpotências como os Estados Unidos, mais de 70% (138 de 193) dos estados membros da Assembleia Geral das Nações Unidas reconhecem a Palestina como um estado.

O Brasil é um deles. Isso aconteceu em dezembro de 2010. Até 29 de Novembro de 2012, a Palestina era considerada um “Estado observador”, após o que o seu estatuto foi elevado para “Estado observador não membro”. Esta mudança permitiu que os palestinos participassem nos debates da Assembleia Geral e expandiu as oportunidades de adesão às agências das Nações Unidas e outros órgãos. No entanto, esta votação não estabeleceu de fato um Estado palestino. Há um ano, os palestinos tentaram, mas não conseguiram, obter apoio suficiente no Conselho de Segurança.

Fundar um novo país é complicado. E no caso da Palestina, isto é ainda mais, devido ao conflito de 75 anos com Israel. Os especialistas em direito internacional identificaram quatro elementos principais de um Estado: o seu povo, o seu território, o seu governo e a sua capacidade de manter relações com outros Estados soberanos. Embora a definição de etnia seja muito debatida, alguns especialistas argumentam que se trata de uma população permanente com um conceito e uma crença na sua própria nacionalidade.

Outro fator importante é que um Estado tenha um território definido sobre o qual é soberano, uma área dentro das suas fronteiras. Um governo estável e eficiente é citado por muitos como um critério para a nacionalidade. Outro fator importante é a capacidade de manter relações com outros países. Isto baseia-se no entendimento de que os Estados soberanos não são dependentes ou subservientes a outros poderes ou Estados. Muitos países podem lhe reconhecer, mas o grande “prêmio” é ser reconhecido como nação pelas Nações Unidas. Isto não aconteceu no caso da Palestina, e exigirá apoio internacional. Milena Stelio, professora de direito internacional na Universidade Estadual de Cleveland, nos Estados Unidos, disse: “É basicamente impossível para um grupo reivindicar a condição de Estado de forma independente, a menos que outro Estado poderoso o apoie ativamente”.

Um caso emblemático é o de Timor Leste, uma antiga colônia portuguesa na Ásia até ser invadida pela Indonésia em 1960. Durante a Guerra Fria, os indonésios foram aliados valiosos dos Estados Unidos, então o movimento de independência de Timor-Leste recebeu pouco apoio. Contudo, após o colapso da União Soviética na década de 1990, a atenção internacional voltou a Timor-Leste. Com o colapso do comunismo, as principais potências ocidentais já não precisavam da Indonésia como aliada. “As principais potências ocidentais ficaram essencialmente embaraçadas pelas violações dos direitos humanos ocorridas em Timor-Leste e cederam e disseram essencialmente: ‘Ok, agora o povo de Timor-Leste pode exercer o seu há muito adiado direito à autodeterminação’.” Stelio disse. Os timorenses votaram pela independência em 1999 e alcançaram a independência em 2002. No entanto, o processo foi repleto de violência e exigiu o apoio político das Nações Unidas e a intervenção das forças internacionais de manutenção da paz. A criação de um Estado é o fato de que, para que um território se torne num novo Estado, outro Estado soberano existente deve perder parte do seu território, e “isto viola as leis e padrões de integridade territorial. Estas são algumas das regras mais antigas e rigorosas que sustentam o sistema internacional”, explica Rebecca Richards, professora de relações internacionais na Universidade de Keele, no Reino Unido.

Em outras palavras, Israel teria de aceitar o estabelecimento de um Estado palestiniano. Vale a pena lembrar que a Palestina não é o único território que reivindica a condição de Estado. Existem também outras regiões ao redor do mundo, como a Somalilândia e o Kosovo. Embora tenham declarado independência, não são considerados membros das Nações Unidas.